À une passanteLa rue assourdissante autour de moi hurlait.
Longue, mince, en grand deuil, douleur majestueuse,
Une femme passa, d'une main fastueuse
Soulevant, balançant le feston et l'ourlet;
Moi, je buvais, crispé comme un extravagant,
Dans son oeil, ciel livide où germe l'ouragan,
La douceur qui fascine et le plaisir qui tue.
Dont le regard m'a fait soudainement renaître,
Ne te verrai-je plus que dans l'éternité?
Car j'ignore où tu fuis, tu ne sais où je vais,
Ô toi que j'eusse aimée, ô toi qui le savais!
Agile et noble, avec sa jambe de statue.
Un éclair... puis la nuit! — Fugitive beauté
Ailleurs, bien loin d'ici! trop tard! jamais peut-être!
— Charles Baudelaire
A uma passante
A rua ensurdecedora ao redor de mim agoniza.
Longa, delgada, em grande luto, dor majestosa,
Uma mulher passa, de uma mão faustosa,
Soerguendo-se, balançando o festão e a bainha;
Ágil e nobre, com sua perna de estátua.
Eu, embevecido, inquieto como um extravagante,
Em seus olhos, o céu lívido onde se oculta o furacão,
A doçura que fascina e o prazer que destrói.
Um clarão... depois a noite! - Beleza fugidia
Cujo olhar me faz subitamente renascer,
Não te verei senão na eternidade?
Alhures; bem longe daqui! Muito tarde! Jamais talvez!
Pois ignoro onde tu foste, tu não sabes onde vou,
Ah se eu a amasse, ah se eu a conhecesse!
— trad. Mário Antonio Frangiotti
Apaixonar-se pelo inapreensível, pela imagem frágil de uma presença que nos atravessa, em anônimo, na multidão. E o deixar ir faz parte, porque é justamente a incompletude que não nos permite esgotar a qualidade do sentimento.