26.2.14

EXP. 3 - 3h15; uma crônica que todo intercambista já viveu


3h15. Era o meu primeiro dia sozinha. 

Logo cedinho, vi pelo fresta da porta a luz da cozinha ser acesa. Se ouvia as colheres enchendo de leite com cereal, serem levadas à boca e depois recolocadas na porcelana; posicionadas na mesma mesa em que, mais tarde, estaria um bilhete escrito especialmente para mim, desejando uma boa manhã. Esperei o barulho da chave virando para me levantar. Na ponta dos pés levei meu corpo em passos inseguros para explorar. A luz ainda apagada de receio. Inspirações e expirações calculadas para não fazer barulho. Cruzei o corredor. 
Tudo tão contornado, recheado de uma história que não era minha. Estranho. Vacilei a perna quando, um pouco abaixo da canela, senti um serzinho ainda desconhecido me dar boas vindas. Saltitante, assim como as expressões dos personagens nas fotos que me observavam. Sem nome. Tentava ligar os rostos vazios com as histórias que me contaram no carro quando viemos do aeroporto. Tava tão escuro. A tia era a loira ou aquela de blusa verde? E a filha, qual? 

Esqueci onde ficava o pão que eles tinham me mostrado. Vasculhei um pouco pelos armários, recolocando as embalagens com os rótulos virados para o mesmo lado que deixaram. Achei, mas e a manteiga?
Algumas horas depois, louça lavada, peguei o tal do bilhete. 3h20 estariam de volta. Pontuais, antecipados ou atrasados? Relógio marcando, ritmado. Eram 3h15.