27.6.14

circo dos discursos circulares

     Eu afirmo, reafirmo, e o faço novamente, só para não fazê-lo de verdade. Eu sei do que eu preciso, eu sei o que na minha cabeça é o mais prudente, se é que posso colocar assim, mas muitas vezes não ponho em prática. "A comunicação é essencial" eu sempre imponho, mas quem disse que eu me comunico? Eu participo do circo de histórias arredondadas que tornam as coisas mais bonitas, mais aceitáveis, mas e o feio, o afiado, o dolorido? Nunca estão no meu discurso. Quer dizer, não quando se referem a mim. 
    O mais duro é saber de tudo isso e não fazer nada a respeito. Queria eu ter o poder de entender os meus problemas e saber resolvê-los ali na hora, mas é como se naquele exato momento eu me sentisse tão ameaçada a ponto de esquecer tudo o que acho sensato. Pause e eu tateio pela resposta mais fácil de engolir, a que seja mais esférica, que me faça parecer melhor. E aí eu entro na mesma lógica midiática de valores projetados (teoria de Morin); mediocridade, conformismo, acriticismo e conservadorismo, seguidos à risca. 
   Mediocridade ao superficializar a situação, sem julgamento dialético algum (como ao que me referi naquele post com a trilha do Jack Johnson). Conformismo ao entregar uma mensagem tão lapidada, tão mastigada, a ponto de não haver outra reação por parte do meu receptor se não a de se conformar. Acriticismo, pois com o diálogo tão redondo não há como argumentar, eu te jogo no loop da minha montanha russa (mais uma vez, a mesma do post do Jack), em que você perde todo o seu poder crítico de juízo (nos termos adornianos). E por fim, e talvez mais valorizado entre todos os outros, vem o conservadorismo: eu necessariamente me saio imparcial no fim da história, pareço bem para todos os lados, afinal, o problema já não era nem meu. 
   Pronto, resolvido, falei, falei, falei, e não disse nada. Não comuniquei o que realmente estava pensando de tudo aquilo. E será que eu sequer lembro de como se identifica isso? Será que eu sei o que eu realmente sinto, ou só o que eu quero sentir? É como se meu cérebro tivesse se acostumado a resolver as equações colocando outras por cima, num movimento de abstração eterna das formas sólidas; as falas só se embaraçam mais e, de camada em camada, perdem totalmente o sentido que um dia já tiveram. Eu passo da fração pro decimal, decimal para a fração, e nem sei do que se trata: no fim das contas, são só números, não? 
   Numerosas sim foram as vezes que eu coloquei a comunicação como essencial. Tamanha ironia que eu, estudante da tal comunicação, até agora não havia entendido de verdade que pratico todo dia o que eu critico. Critico no papel, na prova, no trabalho, o mesmo discurso que reproduzo sem nem perceber. Corpo-mídia se faz cada vez mais claro, e Debord ainda mais genial: a sociedade do espetáculo produz e reproduz seu conteúdo fantástico, todo feito de imagens, projetando e se apropriando de formas feitas de aparência. 

Trilha sonora: Anthem - Emancipator (Twoven Downtempo remix)